Particularmente enxergo esse assunto sem hipocrisia. O fisiculturismo é um esporte reconhecido, suas competições têm ampla divulgação, e praticamente não existe sem o uso de esteróide. Simplesmente recriminar o uso, apenas afasta o atleta de avaliações médicas adequadas e com caráter educativo e com capacidade de ajudar a encontrar a melhor dose do esteróide com menor risco.  Continue lendo para saber um pouco mais.

Antes de começar a falar dos esteróides é preciso deixar claro esses termos de metabolismo corporal. Catabolismo é quando o nosso corpo degrada alguma molécula presente nos tecidos do corpo e o anabolismo é quando o corpo produz moléculas complexas para os tecidos. Então os esteróides anabolizantes são hormônios que sintetizam moléculas de proteínas no corpo. Os esteróides podem ser encontrados a partir do estrógeno (hormônio feminino produzido pelos ovários), andrógeno (hormônio masculino produzido pelos testículos) e cortisona (hormônio de ambos os sexos).

Os esteróides usados com fim de aumentar a síntese de tecido muscular são chamados de esteróides anabolizantes (EAA). Os EAA começaram a ser descobertos na década de 1930 e desde então a pesquisa sobre eles aumentou muito até a segunda guerra mundial. Durante a Guerra, cientistas alemães fizeram muitas pesquisas para a síntese de esteróides. Durante esse período muitos experimentos em prisioneiros humanos e nos próprios soldados alemães foram feitos. Os cientistas esperavam aumentar as tendências de agressividade de suas tropas. Um dos usos iniciais de esteroides foi para o tratamento de cansaço crônico sendo testado nos prisioneiros nos campos de concentração nazistas.

Inicialmente os esteróides anabolizantes foram utilizados para inúmeros procedimentos médicos incluindo a estimulação do crescimento ósseo, apetite, puberdade e crescimento muscular. Podem também ser usados no tratamento de pacientes submetidos a grandes cirurgias ou que tenham sofrido acidentes sérios, situações que em geral acarretam um colapso de proteínas no corpo. O uso mais comum de EAA é para condições crônicas debilitantes, como o câncer e a AIDS. Os EAA podem produzir inúmeros efeitos fisiológicos incluindo efeitos de virilização, maior síntese proteica, massa muscular, força, apetite e crescimento ósseo.

Ainda na década de 1950 os EAA começaram a ser utilizados no esporte mas na década dos anos de 1970 eles passaram a ser usados indiscriminadamente no fisiculturismo e por halterofilistas. Durante os Jogos Olímpicos de Munique o Comitê Olímpico Internacional passou a considerar o uso dessas substâncias como atitude antiética. Com o avanço dos critérios antidoping em todos os esportes houve uma grande corrida para o desenvolvimento de formas de utilização para que elas não fossem detectadas nos testes convencionais.

Desde que essas drogas foram proibidas no esporte houve uma decrescente utilização das mesmas mesmo nas condições onde  elas  eram indicadas. A falta de informação da classe médica sobre mecanismos de ação, efeitos danosos e  a como utilizá-las de forma segura trouxeram um crescente preconceito com as mesmas. E essas drogas ficaram reduzidas quase que exclusivamente ao meio do esporte competitivo. Os esteróides anabolizantes possuem inúmeros efeitos que podem ser positivos ou negativos.

Efeitos  positivos:  Dentre  os  efeitos  positivos  podem  ser  citados o ganho de peso, além de aumento nas dimensões corporais e aumento da massa muscular livre de gorduras.Em homens de meia idade com elevada gordura corporal pode melhorar o metabolismo de carboidratos e reduzir a mortalidade por doenças cardiovasculares.

Efeitos negativos: Existe  uma  enorme  gama  de  efeitos  negativos, que podem ser reversíveis ou não, estando alguns ligados ao óbito de seres humanos. A testosterona e seus derivados podem causar uma série de efeitos colaterais nos sistemas cardiovascular, endócrino, reprodutivo, hepático e dermatológico, além de alterações no metabolismo. Esses efeitos são extremamente preocupantes e se relacionam à diminuição nos níveis de colesterol HDL, falha hepática, infarto  do  miocárdio, arritmias, morte súbita, desenvolvimento  de  certos tipos de câncer. Os  efeitos  neurológicos  e  psicológicos  são  bastante  comuns  como  irritabilidade, agressividade, descontrole emocional, euforia, sensação de grandeza, hiperatividade e comportamento perigoso. A cessação após uso por um longo período de tempo apresentaram sintomas acentuados de depressão, fadiga, incapacidade de concentração e até personalidade suicida.

Nas últimas duas décadas a busca por estética e performance saiu do esporte profissional e amador a passou a atingir uma população cada vez maior. A busca por performance no trabalho e na vida social levou a uma enorme procura por parte de toda a população, homens e mulheres de todas as idades. Com a falta de informação dos médicos que sempre se recusaram a fazer essa prescrição voltada a estética e performance o mercado negro para essas drogas cresceu bastante. Atualmente a proliferação de cursos de pós-graduação em “Medicina Esportiva” fez crescer o número de profissionais que usam e prescrevem tais drogas sem muito critério. Muitos profissionais sem formação e informação adequadas vendem grosseiramente receitas de esteróides com base em fórmulas pré-concebidas e sem considerar a necessidade de cada indivíduo e, sobretudo, sem avaliar o risco individual de uso.

Nos últimos anos as doses dessas drogas têm aumentado excessivamente e as complicações delas na mesma proporção. Nos últimos 12 meses o número de atletas que sofreram morte súbita foi superior aos anos anteriores. Não custa lembrar que as complicações mais graves do uso de esteróides anabolizantes são no coração. A chegada de novas técnicas de avaliação do coração nos permitiu conhecer que o coração pode sofrer um processo de fibrose mesmo na primeira dose de EAA. Essa fibrose será maior quanto maior for a dose utilizada e o tempo de utilização. O mais importante é que o usuário de esteróides anabolizantes precisa entender que ele deve ter um cuidado redobrado com a sua saúde e principalmente do coração.